Talentos, poderes latentes da alma e dons espirituais não são a mesma coisa. Os talentos são habilidades naturais do ser humano. Os poderes latentes da alma são capacidades denominadas de sobrenaturais, ainda que todos possam ter. Os dons espirituais são ferramentas do Espírito Santo a serviço dos propósitos divinos. Todas as pessoas têm talentos múltiplos e variados, assim como todos têm armazenados os poderes da alma. Tanto os talentos comuns, como os poderes considerados incomuns são aptidões naturais dos seres humanos.

Alguns indivíduos são portadores de uma maior quantidade de talentos e outros conseguem, usando métodos apropriados, despertar os poderes latentes. Mas todos precisam de algum estímulo pedagógico ou artifício mágico para desenvolver as suas habilidades. Os talentos e os poderes da alma são faculdades humanas que precisam de impulso para poder desabrochar. Os dons espirituais não são características particulares de nenhum ser humano. O homem natural tem talentos e poderes da alma, mas a nova criatura dá morada, através do Espírito Santo, que habita nela, aos dons espirituais. Os dons são do Espírito Santo que vive no crente e nunca um predicado do próprio crente.

Quem tem o Espírito Santo residindo em seu interior tem a possibilidade de ser usado como instrumento, onde os dons espirituais podem se manifestar para um fim que edifique a igreja, desde que somente Cristo esteja sendo glorificado. Todavia, é preciso conferir, com plena perceptibilidade, a diferença entre os poderes latentes da alma e os dons espirituais, já que há muita semelhança nos efeitos, causando confusão entre os dois. O gênero adâmico acha-se equipado com muitos poderes, pois Deus o fez superpotente, a fim de dominar e administrar o planeta. Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Gênesis 1:26.

Depois do pecado estes poderes ficaram encerrados nas profundezas da alma, podendo ser desadormecidos através de mecanismos enigmáticos e para-psicológicos. Os talentos podem ser despertados por estímulos pedagógicos normais, mas os poderes da alma só são reavivados através das técnicas místicas. Nesse campo misterioso, os iniciados são instigados a abrir os olhos para as forças ocultas do seu interior.

Por exemplo: a clarividência é um dos poderes latentes da alma que freqüentemente pode ser motivada e confundida com um dom espiritual. Esses poderes como a telepatia, além de outros, foram dados por Deus a Adão para ele governar a terra. Mas em razão do orgulho pecaminoso, eles ficaram sob controle e encapsulados. Os poderes latentes da alma podem ser confundidos com os dons espirituais, por isso, muitos estudiosos ensinam que os dons "carismáticos" foram extintos quando terminou o período da confirmação da mensagem do evangelho. Não encontro base bíblica para dizer que os dons espirituais cessaram no fim da era apostólica, como sustentam essas pessoas. Por outro lado, há muita mistura nessa salada, bem como muitos equívocos a respeito desse ponto. Mas isso não é motivo para negar a presença dos dons na vida da igreja.

Acredito que o falso não pode ofuscar a realidade autêntica, nem o uso dos poderes latentes da alma seja capaz de desconsiderar a permanência dos dons na existência da igreja de Cristo. Só porque há algo esquisito deve-se recusar a existência do legítimo? Há também quem diga que os dons se dividem em ordinários, como a fé, que Deus dá a todos os crentes, e os extraordinários, como operações de milagres, que foram sustados com a consumação do cânon neotestamentário. Porém, a Bíblia não apóia esta divisão, nem advoga qualquer idéia de cessação.

Sei que o terreno é escorregadio, por isso devemos andar com cuidado. Num outro estudo anterior, focalizei Moisés realizando alguns sinais pelo dedo de Deus, enquanto os magos do Egito conseguiam fazer os mesmos prodígios pelos poderes mágicos. Tudo indica que Moisés estava operando com os dons divinos, mas os magos agiam com os poderes latentes da alma, fomentados pelo Maligno. Não se pode negar que existe muita semelhança entre os resultados. Os milagres realizados pelos magos eram análogos aos realizados pelo dedo de Deus, causando assim, um grande buchicho no meio do povo.

As aparências enganam, por isso, aquilo que mais se assemelha ao autêntico tem uma maior condição de causar essa treta, em que o homem pretende passar-se por Deus. Simão, o mágico, também denominado o Grande Poder, era um destes expertos que se exibia com fascínio, através dos poderes encantadores, levando vantagem diante da opinião pública em Samária, quando o evangelho estava sendo disseminado naquela região. O método de utilização desses poderes vem do trabalho de Hermes Trismegisto, um mago egípcio, cognominado três vezes mestre, e que incrementou as técnicas da magia nos tempos de Moisés, tendo grande penetração na igreja da idade média, pela influência de Marsílio Ficino. Alguns pesquisadores dizem que Tubalcaim, descendente de Caim, foi o primeiro mestre dessa arte da utilização dos poderes latentes. O fato é, que estes poderes são inatos no homem natural, e deste modo, qualquer um pode desenvolvê-los por meio das técnicas esotéricas e usá-los para o seu reconhecimento pessoal.

O Senhor Jesus mostrou que uma das funções de Satanás é cogitar dos interesses do ser humano. Ele pretende levar a cabo a velha tese do jardim, que a pessoa pode ser o seu próprio Deus. Jesus, porém, voltou-se e, fitando os seus discípulos, repreendeu a Pedro e disse: Arreda, Satanás! Porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens. Marcos 8:33. O anticristo tem aversão a Deus, mas pretende se passar por Deus, utilizando-se dos seus próprios poderes latentes. O qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus. 2 Tessalonicenses 2:4. Esse aparato vem promovido por Satanás, porém são os poderes da alma que entram em campo para o jogo.

O técnico de um time pode montar a estratégia, mas quem faz o espetáculo são os jogadores. Satanás até estimula muito bem os artistas desse show, contudo quem está no palco são os sujeitos exibicionistas do poder. Alguém disse que não é difícil descobrir quem está por trás dos acontecimentos da vida. Quando o Espírito Santo usa uma pessoa, com algum dom espiritual, a glória vai toda para Jesus Cristo. Entretanto, quando Satanás incita um sujeito para usar o seu poder latente, a glória fica com aquele que executou o portento.

Se observarmos apenas os resultados podemos ficar confusos. A água transformada em sangue por Moisés era igual à água transformada em sangue pelos magos. O ponto que precisa ser analisado é para quem vai a glória ou quem recebe o culto! Muita coisa extraordinária tem acontecido na história da igreja, mas precisamos saber quem está patrocinando estes acontecimentos. Percebo algo estranho quando surge o desejo de ser visto ou celebrado. Veja: Pedro e João não buscaram o crédito ao serem usados pelo Espírito na cura de um paralítico. À vista disto, Pedro se dirigiu ao povo, dizendo: Israelitas, por que vos maravilhais disto ou por que fitais os olhos em nós como se pelo nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar? Atos 3:12.

O que está por trás da cena é a glória. Quem vai receber os louros? Eis aqui a questão central do caso. Se alguém reivindica o louvor esse é o agente. Os dons são do Espírito e a glória é de Deus. Aqui está uma questão fundamental a ser analisada. Muitos estão à caça de prestígio e proveito, outros vivem para a glória de Cristo, não se importando com a falta de consideração. Quem é usado pelo Espírito e quem usa os poderes latentes da alma? A pessoa que foi esvaziada pela obra da cruz não vive procurando aprovação no seu ministério, através dos eventos notáveis, nem se sente à margem, pela falta de confetes. Ela sabe que foi aceita incondicionalmente pela graça de Deus em Cristo, e que o seu serviço é o resultado da operação do Espírito Santo, a fim de que apenas o Senhor Jesus Cristo seja realmente exaltado.


A nova criatura não ostenta os seus talentos no anfiteatro da vida, tampouco quer ser vista como dominante. Ela não exibe a força de He-man nem se vincula ao castelo de Grayskull na busca dos poderes que a engrandeçam. O prazer dos santos de Deus é viver inteiramente para a glória de Cristo.

Nenhuma pessoa salva pela graça e revestida pelo Espírito Santo tem permissão de usar os poderes latentes da alma a serviço do Reino de Deus. Mesmo porque, no Reino de Deus, só o poder de Deus tem a condição de satisfazer os propósitos divinos. Além do mais, os poderes latentes da alma deixam os praticantes muito envaidecidos. Ainda que Deus não retire estas habilidades inatas, ele crucifica a vida egoísta da alma, juntamente com Cristo, para que toda atuação seja feita através do poder do Espírito Santo, e, unicamente, para a glória de Cristo. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! 1 Pedro 4:11.

Pastor Glenio Fonseca Paranaguá